NOTA: ESTE É UM ESPAÇO ONDE O JULGAMENTO FICA À PORTA. A INTENÇÃO NÃO É JUSTIFICAR NEM CONDENAR, MAS CRIAR UM LUGAR DE EMPATIA E REFLEXÃO PARA MULHERES QUE VIVEM DILEMAS QUE MUITAS VEZES SÃO TÃO SOLITÁRIOS QUANTO COMPLEXOS.
A Inês (nome fictício) escreveu-me numa madrugada. A mensagem era curta, mas impossível de ignorar: “Amo os meus filhos, mas arrependo-me de ter sido mãe. Será que posso dizer isto sem ser um monstro?”
Foi com esta frase que começou uma entrevista difícil, mas necessária.
O Segredo
Inês tem 42 anos e dois filhos adolescentes. Trabalha numa área criativa, é casada há 18 anos e, por fora, tudo parece normal. Mas por dentro, carrega um segredo que a corrói.
“Desde que os tive, sinto que perdi a minha identidade. Perdi o sono, a liberdade, perdi partes de mim que nunca mais encontrei. Eu amo-os, faria tudo por eles. Mas se pudesse voltar atrás, se tivesse sabido o que significava realmente ser mãe… talvez não tivesse escolhido este caminho.”
A Vida Dividida Entre Amor e Culpa
Perguntei-lhe como é viver com esse peso. Ela respondeu: “É viver com duas vozes dentro da cabeça. Uma diz: ‘Eles são a melhor coisa da tua vida’. A outra grita: ‘Tu nunca quiseste isto’. E o pior é que ambas dizem a verdade.”
A Inês nunca confessou este segredo ao marido. “Ele é um pai incrível. Sempre quis filhos. Se eu dissesse isto em voz alta, acho que ele nunca mais me perdoaria. Então guardo para mim. Sou a mãe que eles conhecem, mas sou também uma mulher que, em silêncio, se arrepende da escolha que fez.”
O Escândalo Que Não Se Pode Dizer
O arrependimento da maternidade é um dos maiores tabus. Inês sabe disso. “Já pensei que talvez eu seja a única a sentir isto. Mas depois vejo outras mulheres, amigas minhas, exaustas, tristes… e penso: será que elas também se arrependem, mas não têm coragem de dizer?”
Este é o escândalo que nunca se partilha em jantares, nem em grupos de mães. É o segredo que só existe no silêncio do quarto, quando a casa finalmente adormece.
O Peso do Amor
Inês não fala em falta de amor. Pelo contrário. “Eu amo-os com todas as minhas forças. É por isso que dói tanto. Porque este arrependimento não tem nada a ver com eles. Tem a ver comigo. Com a vida que eu perdi. Com a mulher que deixei de ser.”
Perguntei-lhe se alguma vez pensou fugir, abandonar tudo. “Não. Nunca. Seria incapaz. O amor é mais forte do que o arrependimento. Mas isso não apaga a verdade: eu sinto que a minha vida podia ter sido outra. E essa vida já não volta.”
Um Espaço Sem Julgamento
No fim da conversa, Inês pediu-me apenas uma coisa: “Escreve isto para que outras mulheres saibam que não estão sozinhas. Que não são monstros. Que este é um sentimento real, ainda que escondido. Não é falta de amor. É apenas a dor de uma escolha que não pode ser desfeita.”
Esta é a história da Inês. Uma história que muitos considerariam escandalosa, quase impossível de admitir. Mas que existe, real, nas sombras da maternidade idealizada.
Aqui, neste espaço, não a julgamos. Porque ser mãe não é uma verdade absoluta, é uma experiência humana, cheia de amor, mas que também pode ter uma boa mão cheia de dor.